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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Plantas econômicas: Guia da Horta para o Racionamento

Que vai faltar água em São Paulo, só não percebeu quem não quer. Na verdade, vai faltar água no sudeste inteiro. Ou melhor, água não falta. Falta planejamento, investimento, transparência, legislação, otimização, manutenção.

Ponta da represa do Cantareira em Piracaia.

O fundo da represa, onde era água.

Nem as aves tem encontrado água.

Se os governantes parecem paralisados pelo pânico eleitoral e governístico de ver seu estado-vitrine colapsando com o recurso mais fundamental de todos, nós é que não ficaremos esperando alguma mágica política acontecer. Não estou sendo pessimista propositalmente, mas olhando com cautela o quadro político e os dados e números do nosso (des)abastecimento. A primeira medida, de urgência: providenciar cisternas. Capte água da chuva. É contraditório deixar a chuva que cai na nossa casa correr pra um rio poluído, enquanto captamos água de longe. O tipo de coisa que as futuras gerações vão rir ao saber, que jogamos fora o que temos em casa pra roubar o do vizinho (água).

Coisas que você pode fazer já:

Construir uma cisterna para captar água na sua casa
Como economizar água em casa

Mas a este blog, ao qual cabe falar de plantas, falemos das plantas mediante situação de racionamento. Vamos aproveitar as chuvas para fazer mudas, pra refazer a horta. Vamos pensar em espécies adaptadas, adaptáveis, que tolerem uma boa seca, água de reúso. Investimento pro resto do ano, onde só temos incertezas. Se teremos que economizar em água, que tenhamos plantas econômicas. Não que você precise esperar um período de escassez para consumir as plantas esquecidas, incomuns, os matos de comer. Mas num período de contingência, se elas puderem ajudar, melhor ainda.

LISTA DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS DE FÁCIL CRESCIMENTO ADAPTADAS À SECAS

Verduras consumidas cozidas:

A primeira delas, o caruru (também chamada de bredo, amaranto e espinafre do mato) é de crescimento ultra-rápido e aguenta tranquilamente um período de seca que seria letal pra maior parte das plantas. Não deve ser consumido cru, mas cozido é delicioso e tem o mesmo gosto do espinafre. Rico em nutrientes, minerais, fibras e proteínas. Para coletar sementes, basta agitar as inflorescências na ponta dos ramos, e sementes pretas minúsculas cairão. Só jogar na terra que elas brotam com a primeira rega.
Nome científico: Amaranthus viridis, Amaranthus deflexus, Amaranthus spinosus


Esse tem manchas nas folhas, mas nem todos
tem. Várias espécies são parecidas e comestíveis.

 A segunda delas, o picão, pode ser consumido também como verdura cozida, ou cru apenas em pequenas quantidades e muito raramente. Refogadinho, cozido, é saboroso e nutritivo. Pode ser cozido junto do feijão pra dar mais "sustança", ou ser feito refogado igual couve ou escarola. Coletar sementes não requer explicações: elas são compridas, pretas e grudam na roupa.
Nome científico: Bidens alba e Bidens pilosa.

Picão branco, tem pétalas.
Picão preto, sem pétalas.
As sementes características

A terceira delas é a batata-doce, que não requer mais explicações mediante o tanto que já falei dela aqui no blog. Resistente à seca e muito rústica, vai bem até em caixotes com terra. As batatas obviamente são comestíveis, mas as folhas também. Independente do formato, podem ser cozidas, usadas em sopas, refogados, charutinhos, omeletes, tortas. São deliciosas e crescem muito, muito rápido. Pra mim, a folha da batata doce é a nova couve. Para fazer mudas, enterre uma rama ou espere a batata brotar, coloque-a na água e espere as ramas crescerem uns 10cm, depois coloque-as na terra.
Nome científico: Ipomoea batatas.

Quando brota, coloque na água ou areia molhada.
Basta colocar a rama na terra que rapidamente ela brota.


Temos ainda uma ornamental que pode ser usada como verdura. O malvavisco e o hibisco tem as folhas jovens e brotos comestíveis. A diferença entre eles é a flor - o malvavisco tem as flores fechadas e tombadas, o hibisco tem as flores grandes e abertas. Embora um pouco fibrosas, se cortadas bem fininho e refogadas, as folhas são comestíveis sem problema. Saborosíssimas não são, mas por sua falta de personalidade podem complementar outros pratos. Cozidos, refogados, na sopa... Mudas já existem pela cidade, é só ir e colher. Evite aquelas que nasçam em locais poluídos e perto de postos de gasolina e bueiros. E claro, lave-as muito bem.
Nome científico: Malvaviscus arboreus, Hibiscus rosa-sinensis

Folhas e flores comestíveis.

A quinta planta é a ora-pro-nobis, ou guapiá. Especialmente a variedade que se comporta como trepadeira, com flores brancas e frutos amarelos. Embora cresça devagar no começo, mais pra frente ela cresce super rápido e pode ser colhida semanalmente. Consumida preferencialmente cozida, e crua apenas em pequenas quantidades. Rica em nutrientes, cálcio, fibras e proteínas. Um investimento pro futuro.
Nome científico: Pereskia aculeata.

Pereskia aculeata. Na Horta das Corujas.

Plante perto da cerca!

A sexta é o feijão orelha-de-padre (também chamado de mangalô e lab-lab). Esse precisa de uma cerca pra subir e fica enorme, mas a colheita compensa - ele é adaptado ao calor e a seca e produz quilos e quilos de feijão e vagens deliciosos durante toda a safra. Você facilmente o encontra em feiras de troca ou na internet. Mas atenção, plante logo, porque ele cresce mal se plantado na ápoca da estiagem, porém produz bem mais pra frente se plantado agora. Investimento precioso.
Nome científico: Lablab purpureus.


Ele cresce bastante.

A sétima são os cactos, chamados na culinária mexicana de nopales. Aqui no Brasil, de palma. São aqueles que parecem um empilhado de orelhas ou raquetes. Se consomem as "folhas" mais jovens, verdinhas, refogadas. Para tirar os espinhos, queime no fogo brevemente depois passe uma escova dura em cima. Para cozinhar, só descascar (tirar a pele) e cozinhar com bastante água e uma pitada de bicarbonato. Descarte a água e consuma-o cozido. Embora ele solte baba quando cozido, depois de pronto e escorrido ele não fica babento. Tem sabor que lembra o chuchu e o brócolis. A Neide Rigo já falou deles.



Verduras consumidas cruas

A oitava dela é almeirão-roxo, ou almeirão japonês, ou almeirão de árvore. Delicioso na salada ou refogado, levemente amargo, mas bem suave. Uma planta rústica, de crescimento rápido, tolera bem a seca e quase não pega doenças. Pra salada, saborosíssimo e pode ser consumido cru à vontade. Você encontra sementes a venda principalmente na internet.
Nome científico: Lactuca canadensis.

Adicionar legenda

A nona é o dente-de-leão, que aguenta bem a seca desde que plantado junto com outras plantas. Sabe almeirão, catalonha? Se consome igualzinho. Folhinhas crespas na salada, amarguinhas e saborosas. Colete sementes dos pompons na rua, ao invés de sair assoprando.
Nome científico: Taraxacum officinale.

Dente de leão: as flores



A décima é a serralha, que nasce muito rápido e é bem gostosa. Ainda no mundo das verduras amarguinhas, ela tem uma cor distinta e vai muito bem nos pratos do dia-a-dia. Para pegar sementes, só olhar os pompons que se formam quando as flores morrem.
Nome científico: Sonchus oleraceus

A serralha é distinta: flores amarelas, folhas claras e serrilhadas.

 A décima primeira é a beldroega. Com suas folhinhas suculentas, ela cresce rapidinho, bem rasteira,e tolera semanas sem chuva. Não produz muito, mas se colhida de manhã é bem azedinha e complementa bem uma salada. Para fazer mudas, procure as sementes pretas que nascem nas capsulas pontudas em meio as folhas.

Beldroega, folhinhas suculentas.
Moita de beldroega na Hora da Horta.
Não colocamos fotos aqui, mas podíamos ainda falar do feijão guandú, do feijão de corda, a capiçoba, a tiririca, a moringa, o beldroegão, o mastruço, a buva, a guasca... E outra infinidade de plantas que toleram a seca. A maior parte delas já falamos aqui no blog, você pode dar uma olhada nos arquivos.

Quer notícias atualizadas? Mais aqui: http://boletimdafaltadagua.tumblr.com/.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Dona Benta era PANC

Sim, um dos mais famosos livros de culinária do país tem receitas com PANC. Na verdade, não se falava em hortaliças não-tradicionais porque esse termo não tinha sido cunhado, e ainda por cima, elas não eram não-tradicionais - eram verduras de uso na rotina, ainda que regional ou esporádico. Mas suficiente representativos gastronomica e antropologicamente que entraram até em livro de receita. E não é qualquer livro.

Quem me alertou isso foi a Maria Fernanda Filardi F., colega no grupo Hortelões Urbanos que gentilmente me cedeu as fotos. A edição de  Dona Benta 1978 trazia várias receitas com o bredo ou caruru (falamos dele aqui, já), que ainda incluíam a taioba e a bertalha. Mais uma prova de que o assunto não é novo, mas se renova - e ao que me parece, com cada vez mais demanda e mais urgência.





Vamos pro passado, vamos pra Bahia. Não come carne? Troque os camarões por uma pitada de alga Nori ou talvez Wakame picadinhas (você as encontra em mercados japoneses, lojas de produtos naturais e em até mercados Pão de Açucar). Elas dão um sabor refrescante de mar que eu acredito não vá descaracterizar a receita. Pelo menos para moquecas vegetarianas, tenho usado as algas e funciona divinamente. Para os sabores defumados de carne de porco e banha, invista em sal defumado, páprica defumada ou ainda tofu defumado, que deixam a comida simplesmente deliciosa.

A única coisa que não vale substituir na receita é o caruru, heim? Nada de couves ou espinafres. Vamos obedecer a Dona Benta.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Cogumelos comestíveis?

Ah, como eu gostaria de um guia confiável de identificação de cogumelos! Essa época de chuva traz tantas preciosidades que aparecem nos lugares-comuns de casa, quintal, raízes, composteira, gramado. São redondos, compridos, cheirosos, suculentos, crescem a olhos vistos. 

Nos tempos que estive na Irlanda, era cogumelo quase todo dia. Era barato, saudável e extremamente saboroso. Que me lembro, pelo menos umas 5 variedades, desde o button mushroom até o chestnut mushroom, uma unanimidade por lá.

Eu confesso, alguns eu coleto, aperto, cheiro. Ah, o cheiro, que delícia! Mas não sou doido de colocar na boca uma coisa que pode ser o veneno dos venenos. Mas aprecio. Fora do Brasil, cursos e caminhadas de identificação de cogumelos e outros fungos não são incomuns, assim como encontrar cogumelos diferentes nos mercados.

Nosso tesouro gastronômico passa pelos cogumelos nativos, desconhecidos do grande público. Ah, lembre-se que plantas dão flores, tem folhas e hábitos. Os cogumelos, contudo, tem diferenças que são sutis demais para um leigo guloso. Em alguns guias, como esse, de Portugal, eles são classificados em comestível, não comestível, tóxicos e mortais. Sim, mortais. (Link aqui). De qualquer forma, não adianta um guia Portugues, precisamos de um tupiniquim. Alguém sabe algo sobre isso?

Aqui em São Paulo, mais uma vez, obrigado aos orientais. Há uns 5 anos você encontra cogumelos até nos mercados pequenos, e os orientais são os responsáveis por essa cultura e demanda. Ainda que sejam espécies estrangeiras, já é um começo.







domingo, 18 de janeiro de 2015

Quando a chuva vem

Já ouviram falar de fator limitante? É aquele que, independente dos outros fatores, impede que algo aconteça. No caso do sítio, a chuva era o fator limitante. A terra está sendo cuidada, compostada e protegida, mas nada ia pra frente por causa da falta de chuva.

Água, o fator limitante. Foi só ela aparecer que a coisa tomou corpo e forma, ficou verde e pulsante. Saiu da terra, pra todos os lados, pelo chão e pelo céu. Depois de tanto tempo sem chuva em Itu, me emociona ver tudo isso tão verdinho, tão agradavelmente belo.

Lembra das cúrcumas, gengibres, ararutas, galangas, tupinambos, mangaritos, carás-moela e biri que falamos nessa postagem aqui? Saíram do descanso, finalmente. Meio tarde já, mas vigorosíssimas.

E na sua casa, como andam as plantas com a chuva?

Araruta

Mangarito

Tupiambo.

Biri, ou falsa araruta.

Curcuma.

Galanga
Cará-Moela

Orelha de Padre e Cará-Moela




sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Trapoerabas comestíveis

Se existisse um super cientista criador de todos os matinhos, eu acho que ele se inspiraria na trapoeraba para criar sua super-planta.

Primeiro, ele faria uma planta pequena, mas que se alastra e cresce rapidamente. Depois, que tal uma planta que qualquer pedaço em contato com a terra tem a capacidade de criar raízes? Igual monstro de filmes, que mesmo picadinho pelo herói, retoma seus poderes. Hum, que mais? Ah, e se ela mesma tivesse a capacidade de plantar suas próprias sementes? Ótimo, faremos isso. Ah, vamos fazer com que ela nasça no sol e na sombra, pra ter certeza que vai nascer em qualquer lugar. Ah, sim, ela vai. Por fim, poderia ser bonita, né? Coloridinha? Com flores numa cor incomum, que tal azul? Por fim, vai ser resistente a todos os pesticidas.

Com vocês... A SUPER PLANTA!


Vamos treinando o nome. Tra-po-e-ra-ba. Trapoeraba azul é a nossa super-planta. Pois é, nome mais popular dessa verdurinha linda é realmente difícil. O nome científico é um pouco mais fácil, Commelina erecta. Comelina, trapoeraba azul, você escolhe se quer seguir pela nomenclatura tupi ou pela latina.

Mais uma planta alimentícia não convencional legítima. Aliás, uma planta invasiva e ruderal de categoria. O que é uma planta ruderal você já sabe: crescem rápido, se propagam rápido, se multiplicam facilmente, crescem sozinhas e em qualquer lugar e infestam as cidades. Pra nossa sorte.

Sem muito estardalhaço, ela vai tomando conta do seu jardim, do seu canteiro. Imagino que pra agricultura, ela seja uma praga, porque é tecnologia vegetal de ponta: sementes que se desenvolvem debaixo da terra. Sim, esse processo se dá por partenocarpia, através de flores modificadas que saem diretamente dos rizomas, e podem germinar mesmo sendo semeadas superprofundamente. Coisa de ficção científica!

Se você procurar artigos, vai ver que ela é detestada pela agricultura, porque domina as plantações de cana, milho, café e verduras e é uma dor de cabeça sem fim. Você arranca, ela rebrota. Você enterra, ela rebrota. Trator, enxada. Ela volta.

Se você é desastrado, descuidado, não quer ter trabalho com a horta, já sabe: plante trapoerabas azuis. E fique de olho.

A trapoeraba azul gosta de sombra, então junto com o beldroegão, ficam lindas onde nada mais cresce na horta. Ah, mas você mora em apartamento? Não se faça de rogado e coloque uns galinhos de trapoeraba na terra: você vai ter verdura por muito, muito tempo. Elas não gostam muito de sol forte, nem nem solo seco, e um vaso na sala ou perto da janela deve ficar lindo com folhas bem gordinhas.

Em vaso, no sítio. Regada uma vez por semana,
ou nem isso, e crescendo igual samambaia.
A literatura é um pouco inconsistente a respeito do consumo dela. Que é comestível, todo mundo sabe - sua parente oriental, a Commelina benghalensis é verdura popular na China e Índia. Mas a dúvida fica: crua ou cozida?

Alguns estudos indicam teores altos de fitatos e oxalatos. Outros, saponinas. Todas substâncias que devem ser consumidas com moderação, porque podem fazer mal pra digestão e absorção de nutrientes Na dúvida, eu sempre consumo cozida, refogada. As flores azuis podem ser consumidas cruas, entrando na salada. Tem gente colocando no suco verde, na salada. Eu, pelo sim e pelo não, não vou endossar usos que não tenho certeza. 



Assim, mal não vai fazer de imediato, talvez uma dor de barriga, ou nem isso. Mas você vai estar perdendo um monte de nutrientes, porque o fitato presente nas planta remove minerais como cálcio, ferro, magnésio e potássio do organismo. Cozinhar resolve, então, não seja teimoso.

E pra saúde, ela é boa? Análises de diversos autores indicam teores bons de proteínas, cálcio, magnésio e zinco, além de fibras.

Na panela, prefira as folhas, porque os caules são fibrosos. Há registro de uso das raízes e rizomas subterrâneos, mas não os coletei. Se estiver inspirado, dizem que são comestíveis cozidos. As folhas tem gosto suave e textura cremosa, igual ora-pro-nobis ou bertalha, mas sem produzir baba. Uma iguaria quando cozidas no arroz, no omelete ou em bolinhos fritos.





(PS: Existem outras espécies de Trapoeraba, que serão abordadas mais pra frente, num próximo post.)

GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Commelina erecta, Commelina diffusa. Planta monocotiledônea, perene, herbácea, ereta ou "rasteira", ramificada, suculenta e articulada. Folhas pecioladas, de 6-12cm de comprimento, arredondadas mas com ponta aguda, podem ter pilosidade maior na face debaixo da folha. Caules com nervação arroxeada. Flores azuis características, abertas pela manhã.

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Locais sombreados ou pleno sol, preferencialmente férteis e umidos. Frestas, beiras de muro, canteiros.

MODO DE PREPARO
Refogadas, cozidas, escaldas, branqueadas, fritas. Evitar consumo cru. Flores comestíveis e coloridas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sementes crioulas e a beleza

A diversidade é uma coisa linda. E a monotonia às vezes parece que a supera, e toma conta de tudo. Eu, que sempre tagarelo sobre as PANC, já falei muito de monotonia alimentar. De consumirmos sempre as mesmas coisas, sem pensar muito sobre isso.

Esquecemos que há diversidade até no que é convencional. Como é o caso das sementes crioulas, que são variedades que resistiram ao tempo, não são cultivadas em larga escala, não chegam ao grande público, não são manipuladas geneticamente e claro, são associadas a um local e a uma cultura. Ou seja, semente crioula é um termo que fala não só de biologia, mas de antropologia. E história. E ecologia.

Uma coisa curiosa, e que desperta a criança em nós, é ser surpreendido pelas cores daquilo que estamos acostumados. Na Europa e Ásia, cenouras coloridas, beterrabas coloridas, repolhos coloridos. Aqui na América, mandiocas, batatas e milhos belíssimos.

Juntei aquelas que coletei, que ganhei, com as que amigos coletaram e ganharam. E olha, a diversidade é linda. Pena que nos contentamos muito facilmente com a monotonia.

Milhos

Feijões

Milhos, feijões, favas, sojas.


sábado, 10 de janeiro de 2015

Tiririca: praga gourmet (parte 2)

Falamos das tiriricas ou chufas na postagem anterior. Mas inda temos outra tiririca para falar, e ela é bem diferente dessa primeira. A tiririca amarela, que falaremos agora, é mais fácil de identificar, porque há poucas espécies parecidas.

Ela é claramente identificável pela sua flor amarela em forma de estrela, o que lhe dá os nomes de capim-estrela, grama-estrela e tiririca-estrela.  O porte é menor, e ela nasce praticamente em qualquer gramado. A folha parece de grama, mas como não reconhecer essas florzinhas amarelas?


A parte comestível, mais uma vez, é a batata subterrânea. Para isso, você vai precisar de uma pá. Nada de puxar na mão, porque ela quebra e você perde a batata, que fica bem funda, quase 10cm pra baixo no solo.

As batatas podem ser de vários tamanhos - as pequenas, eu replanto para colher depois. Plantadas na horta, bem irrigadas e a pleno sol, ficaram enormes e suculentas.

Diferentemente da tiririca chufa, que vimos no post anterior, essa tiririca dá a batata logo abaixo das folhas, então ela não de espalha tanto na horta - e é mais fácil de colher.

Para preparar, tire a pele preta que a recobre, assim como as raízes gordas. Use uma bucha nova e elas ficarão limpinhas com uma simples esfregada. Ela possui pontos pretos, onde a raiz se prendia à planta - não se preocupe com isso, é normal, não é sujeira

Tiririca amarela: as batatonas.
O consumo? Bom, eu cozinhei e achei meio sem-graça, além de ficar meio babenta. Na literatura, consta que ela é muito nutritiva e fonte de inulina. Porém, eu gostei mesmo é de consumí-la frita. Não colhi muitas porque o chão estava duro e seco, mas acho que se você manejar e plantá-las na horta, terá bons resultados. Apenas limpei e fritei em óleo quente. Pra minha surpresa (isso já foi indicado na literatura) ela fica crocante e saborosa, com sabor de batata frita.

Claro que eu fiz tudo isso a noite, as fotos saíram feias, cheias de chuvisco e eu preferi não publicar. Mas saiba que ficam muito boas e vale a experiência.


As que você colheu estão pequenas? Replante na horta, num cantinho. Elas ficarão gordas e viçosas, como as que colhi.




GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Hypoxis decumbens. Herbacea, pequeno porte. Folhas lisas, fortemente marcadas por veios, finas, pontiagudas. Flores amarelas em forma de estrela, com 6 pétalas. Raizes grossas e úmidas, "batata" subterrânea de pele escura e polpa branca.

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Pleno sol, semi-sol. Gosta de solos úmidos, cresce bem em gramados, onde é praga.


PREPARO
Batata subterrânea, crua ou cozida, especialmente boa frita (batata).
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