Que vai faltar água em São Paulo, só não percebeu quem não quer. Na verdade, vai faltar água no sudeste inteiro. Ou melhor, água não falta. Falta planejamento, investimento, transparência, legislação, otimização, manutenção.
Ponta da represa do Cantareira em Piracaia. |
O fundo da represa, onde era água. |
Nem as aves tem encontrado água. |
Se os governantes parecem paralisados pelo pânico eleitoral e governístico de ver seu estado-vitrine colapsando com o recurso mais fundamental de todos, nós é que não ficaremos esperando alguma mágica política acontecer. Não estou sendo pessimista propositalmente, mas olhando com cautela o quadro político e os dados e números do nosso (des)abastecimento. A primeira medida, de urgência: providenciar cisternas. Capte água da chuva. É contraditório deixar a chuva que cai na nossa casa correr pra um rio poluído, enquanto captamos água de longe. O tipo de coisa que as futuras gerações vão rir ao saber, que jogamos fora o que temos em casa pra roubar o do vizinho (água).
Coisas que você pode fazer já:
Construir uma cisterna para captar água na sua casa
Como economizar água em casa
Mas a este blog, ao qual cabe falar de plantas, falemos das plantas mediante situação de racionamento. Vamos aproveitar as chuvas para fazer mudas, pra refazer a horta. Vamos pensar em espécies adaptadas, adaptáveis, que tolerem uma boa seca, água de reúso. Investimento pro resto do ano, onde só temos incertezas. Se teremos que economizar em água, que tenhamos plantas econômicas. Não que você precise esperar um período de escassez para consumir as plantas esquecidas, incomuns, os matos de comer. Mas num período de contingência, se elas puderem ajudar, melhor ainda.
LISTA DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS DE FÁCIL CRESCIMENTO ADAPTADAS À SECAS
Verduras consumidas cozidas:
A primeira delas, o caruru (também chamada de bredo, amaranto e espinafre do mato) é de crescimento ultra-rápido e aguenta tranquilamente um período de seca que seria letal pra maior parte das plantas. Não deve ser consumido cru, mas cozido é delicioso e tem o mesmo gosto do espinafre. Rico em nutrientes, minerais, fibras e proteínas. Para coletar sementes, basta agitar as inflorescências na ponta dos ramos, e sementes pretas minúsculas cairão. Só jogar na terra que elas brotam com a primeira rega.
Nome científico: Amaranthus viridis, Amaranthus deflexus, Amaranthus spinosus
Esse tem manchas nas folhas, mas nem todos tem. Várias espécies são parecidas e comestíveis. |
A segunda delas, o picão, pode ser consumido também como verdura cozida, ou cru apenas em pequenas quantidades e muito raramente. Refogadinho, cozido, é saboroso e nutritivo. Pode ser cozido junto do feijão pra dar mais "sustança", ou ser feito refogado igual couve ou escarola. Coletar sementes não requer explicações: elas são compridas, pretas e grudam na roupa.
Nome científico: Bidens alba e Bidens pilosa.
Picão branco, tem pétalas. |
Picão preto, sem pétalas. |
As sementes características |
A terceira delas é a batata-doce, que não requer mais explicações mediante o tanto que já falei dela aqui no blog. Resistente à seca e muito rústica, vai bem até em caixotes com terra. As batatas obviamente são comestíveis, mas as folhas também. Independente do formato, podem ser cozidas, usadas em sopas, refogados, charutinhos, omeletes, tortas. São deliciosas e crescem muito, muito rápido. Pra mim, a folha da batata doce é a nova couve. Para fazer mudas, enterre uma rama ou espere a batata brotar, coloque-a na água e espere as ramas crescerem uns 10cm, depois coloque-as na terra.
Nome científico: Ipomoea batatas.
Quando brota, coloque na água ou areia molhada. |
Basta colocar a rama na terra que rapidamente ela brota. |
Temos ainda uma ornamental que pode ser usada como verdura. O malvavisco e o hibisco tem as folhas jovens e brotos comestíveis. A diferença entre eles é a flor - o malvavisco tem as flores fechadas e tombadas, o hibisco tem as flores grandes e abertas. Embora um pouco fibrosas, se cortadas bem fininho e refogadas, as folhas são comestíveis sem problema. Saborosíssimas não são, mas por sua falta de personalidade podem complementar outros pratos. Cozidos, refogados, na sopa... Mudas já existem pela cidade, é só ir e colher. Evite aquelas que nasçam em locais poluídos e perto de postos de gasolina e bueiros. E claro, lave-as muito bem.
Nome científico: Malvaviscus arboreus, Hibiscus rosa-sinensis
Folhas e flores comestíveis. |
A quinta planta é a ora-pro-nobis, ou guapiá. Especialmente a variedade que se comporta como trepadeira, com flores brancas e frutos amarelos. Embora cresça devagar no começo, mais pra frente ela cresce super rápido e pode ser colhida semanalmente. Consumida preferencialmente cozida, e crua apenas em pequenas quantidades. Rica em nutrientes, cálcio, fibras e proteínas. Um investimento pro futuro.
Nome científico: Pereskia aculeata.
Pereskia aculeata. Na Horta das Corujas. |
Plante perto da cerca! |
A sexta é o feijão orelha-de-padre (também chamado de mangalô e lab-lab). Esse precisa de uma cerca pra subir e fica enorme, mas a colheita compensa - ele é adaptado ao calor e a seca e produz quilos e quilos de feijão e vagens deliciosos durante toda a safra. Você facilmente o encontra em feiras de troca ou na internet. Mas atenção, plante logo, porque ele cresce mal se plantado na ápoca da estiagem, porém produz bem mais pra frente se plantado agora. Investimento precioso.
Nome científico: Lablab purpureus.
Nome científico: Lablab purpureus.
Ele cresce bastante. |
A sétima são os cactos, chamados na culinária mexicana de nopales. Aqui no Brasil, de palma. São aqueles que parecem um empilhado de orelhas ou raquetes. Se consomem as "folhas" mais jovens, verdinhas, refogadas. Para tirar os espinhos, queime no fogo brevemente depois passe uma escova dura em cima. Para cozinhar, só descascar (tirar a pele) e cozinhar com bastante água e uma pitada de bicarbonato. Descarte a água e consuma-o cozido. Embora ele solte baba quando cozido, depois de pronto e escorrido ele não fica babento. Tem sabor que lembra o chuchu e o brócolis. A Neide Rigo já falou deles.
Verduras consumidas cruas
A oitava dela é almeirão-roxo, ou almeirão japonês, ou almeirão de árvore. Delicioso na salada ou refogado, levemente amargo, mas bem suave. Uma planta rústica, de crescimento rápido, tolera bem a seca e quase não pega doenças. Pra salada, saborosíssimo e pode ser consumido cru à vontade. Você encontra sementes a venda principalmente na internet.
Nome científico: Lactuca canadensis.
Nome científico: Lactuca canadensis.
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A nona é o dente-de-leão, que aguenta bem a seca desde que plantado junto com outras plantas. Sabe almeirão, catalonha? Se consome igualzinho. Folhinhas crespas na salada, amarguinhas e saborosas. Colete sementes dos pompons na rua, ao invés de sair assoprando.
Nome científico: Taraxacum officinale.
Nome científico: Taraxacum officinale.
Dente de leão: as flores |
A décima é a serralha, que nasce muito rápido e é bem gostosa. Ainda no mundo das verduras amarguinhas, ela tem uma cor distinta e vai muito bem nos pratos do dia-a-dia. Para pegar sementes, só olhar os pompons que se formam quando as flores morrem.
Nome científico: Sonchus oleraceusA serralha é distinta: flores amarelas, folhas claras e serrilhadas. |
A décima primeira é a beldroega. Com suas folhinhas suculentas, ela cresce rapidinho, bem rasteira,e tolera semanas sem chuva. Não produz muito, mas se colhida de manhã é bem azedinha e complementa bem uma salada. Para fazer mudas, procure as sementes pretas que nascem nas capsulas pontudas em meio as folhas.
Beldroega, folhinhas suculentas. |
Moita de beldroega na Hora da Horta. |
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