Erva de capitão (Hydrocotile bonariensis) e Pé-de-burro (Centella asiática) |
Estou falando dessas plantas essa semana porque estava conversando com um pessoal da Horta das Corujas e comentaram que quase nunca tem salsinha, porque nunca dá tempo dela crescer - o pessoal faz "a rapa". E se houvessem PANC que pudessem substituir a salsinha? Essa seria uma sugestão viável, porque ontem eu e a Andrea Pesek encontramos um monte delas lá, nascendo sozinhas. E se as pessoas dessem uma variada, daria tempo pra salsinha se reestabelecer e todo mundo ficaria feliz, usando outras plantas com o mesmo sabor. Como assim?
Substitutos da salsa, colhidos lá na Horta das Corujas. |
Quando você pensa em salsinha, pensa em tempero. De fato, a salsinha pertence a uma família muito perfumada, as apiáceas. Dessa família, temos não só plantas pungentes, como o coentro e o salsão, plantas doces como o funcho e a erva-doce, e ainda plantas picantes como o endro, a alcarávia e o cominho. Na verdade, a lista é grande, e nos países temperados há uma infinidade de outras ervas dessa família que são tremendamente cheirosas. De legumes, temos a cenoura e a mandioquinha, ambas são da família da Salsa. Não comos acostumados a ver pés de cenoura nem de mandioquinha, mas se um dia você tiver a oportunidade, verá que as folhas são parecidas, tem sabor semelhante e são comestíveis. (Além da cenoura, os leitores portugueses do blog vão reconhecer a cherívia ou pastinaca, que é da mesma família também).
Dessa família, a da salsinha, obviamente, existem algumas PANC. Além do aipo-silvestre, que falarei noutra ocasião, temos duas folhas que são pouco conhecidas aqui, mas bastante usadas no oriente: o pé-de-burro e a erva-de-capitão. Já ouviu falar? Eu também não. Na verdade, ela é mais conhecida pelo seu nome popular cairuçú ou ainda, o nome científico - Centella asiatica. Usuários de creme para celulite sabem do que eu estou falando. Essa planta tem uma série de triterpenos usados no tratamento para celulite e flacidez, muitas vezes vendidas sob o nome de asiaticoside.
Folhas da Centella asiática, ou caiçurú, ou pé de burro. Note a forma de coração. |
A Centella asiática ou pé de burro é bem comum aqui no sudeste, e em casa, pessoalmente, eu nunca tinha dado atenção. Ela adora nascer no meio do gramado, e prefere locais úmidos e sombreados. As folhas são em forma de pé-de-burro, levemente ásperas e opacas, e crescem através de um "ramo" subterrâneo, aparecendo só as folhas debaixo da terra. Se você puxar, vai perceber que elas são unidas por esse "rizoma" branco e fino subterrâneo. As flores não são nada chamativas, parecem pequenos tufinhos brancos que raramente você vai encontrar.
Pois bem, a centella é pequena, mas concentrada em nutrientes. Potássico, zinco, enxofre, boro, manganês e um coquetel de antioxidantes. Se você provar, vai reconhecer um gosto forte de salsinha com uma pirata de cominho. Ou ainda lembra a mitsuba, a salsa japonesa, aromática. A folha é mais firme, mas picada fininho fica linda e saborosa na finalização de um prato.
Um parente da Centella asiatica, que já mudou de nome um monte de vezes, é o Hydrocotyle bonariensis. Chamada também de erva-do-capitão, parece uma outra PANC, a capuchinha. A folha, nesse caso, é redonda e bem brilhante, o que dá origem ao seu nome, em inglês: pennyworth. Na realidade, Hydrocotyle e Centella são gêneros-irmãos, gerando muita dúvida nos botânicos, que acabam por dificultar a nossa vida. Em inglês, ambas são chamadas de pennywort, ou folha-moeda, por ser redonda e brilhante. Existe até suco em lata de pennywoth, acredita?
Hydrocotyle. Note as folhas redondas e brilhantes. Foto de Vera Onishi, tirada na nossa caminhada PANC. |
Suco de Centella, até em lata! |
A prima da Centella, o Hydrocotyle ou erva-de-capitão tem as folhas redondas, fechadas. A folha é saborosa, lembra realmente salsinha e é riquíssima em cálcio, boro, manganés e potássio. Aliás, é uma das PANC mais ricas em cálcio, só perdendo pras urtigas.
De cada folha sai uma raiz, e ela se ramifica. |
Hydrocotyle. Foto de Denise Caillan, tirada na nossa Caminhada Panc. |
O suco é feito em geral com a espécie em forma de coração, a Centella. Na dúvida, consuma aos poucos, e vá devagar, ok? Se for fazer o refresco, de preferência para a planta com folhas em forma de coração, a Centella verdadeira.
Para fazer mudas, providencie uma floreira ou vaso de boca larga e adicione uma boa camada de areia no fundo (20%). Depois, cubra com terra orgânica de boa qualidade e bem fértil, podendo acrescentar até mesmo composto da composteira. O que importa é que a terra seja solta, fértil, bem drenada e fique sempre úmida. De preferência, em local sombreado. Para manter a umidade, coloque pedras em cima do vaso, e as plantas vão crescer em volta da pedra, protegidas. Elas nascem no mesmo solo que a hortelã e a taioba vão bem. Na verdade, elas nascem em solos pobres, mas aí as folhas serão duras, fibrosas e amargas.
Centella asiática. Veja como pode ficar bonita. Amassada, tem cheiro entre a salsa e o cominho. |
Ela pode ficar bem grande. Centella asiática. |
Ela nasce em volta de pedras, a Centella. |
Procure mudas pela cidade, especialmente em jardins que não usem agrotóxicos ou herbicidas. Com ajuda de uma pá, apenas uma folha enraizada é suficiente. Se mora no litoral, os Hydrocotyle nascem facilmente na beira da praia, porque toleram bem a salinidade.
Ah, existem espécies venenosas que podem ser parecidas. Por exemplo, essa solanaceae, que parece, mas não é. As folhas são bem maiores e as flores parecem a flor do tomate. Existe também a Asarum, um gênero incomum aqui no Brasil, que possui um cheiro forte de gengibre e tem substâncias carcinogênicas. Sua flor é bem diferente. A seguir, uma comparação entre as espécies.
Centella asiática. |
Hydrocotyle bonariensis e sua flor, branca. |
Asarum ssp, que tem cheiro de gengibre e é venenoso. Identico à Centella, porém, o aroma e a flor são diferentes. |
Lycianthes asarifolia venenosa, a folha parece a Centella, mas a flor é grande e branca. Na dúvida, evite. Os frutos amarelos dessa espécie são comestíveis, contudo. |