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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Aniversário da Horta do CCSP, comidas de improviso e muitos sorrisos

CCSP: Uma Horta Caprichosa

É muito legal quando uma Horta Urbana faz aniversário. A Horta do Centro Cultural São Paulo, na realidade, foi onde começou minha história com os Hortelões Urbanos. Passando por lá no começo de 2014, vi uma placa de "siga-nos no facebook" e foi assim que tudo começou.

A horta já mudou muito, e cada vez que passo por lá, está maior e mais bonita. O pessoal consegue manter a horta sempre cuidada, e apesar das dificuldades de ocupar um espaço institucional (ela fica no solar do CCSP, lá em cima, com vistas para a 23 de maio) que não pode ser alterado, tem solo raso, muito sol e pouca água.

Dia 26, ontem, domingo lindo e ensolarado de outono, foi o aniversário de 2 anos da Horta. É uma  horta colorida, organizada e cheia de cheiros e sabores. Dá para ver que o pessoal não tem medo de colocar a mão na massa para deixar tudo sempre bonito e convidativo, porque pelo centro de São Paulo encontrar até milharal não é pouca coisa.



Parabéns pra Horta, o que é, na verdade, parabéns a todos que fazem a Horta, que colocam a mão na terra, fazem canteiros, perdem a hora de almoço pra fazer regas, lidam muitas vezes com a burocracia de um espaço institucional...

E teve comida! Eu ajudei a colher e identificar as PANC numa oficina bem gostosa, cheia de sabores, cores e aromas. Todos ficaram surpresos com a quantidade de comida que estava lá, nascendo sozinha, sem que ninguém se desse conta. A surpresa do dia foi pelo perfume do incomum macassá, que o Gui Borducchi usou para aromatizar um creme sedoso de inhame lilás com emburana, resultando num creme de cor delicada e sabor suave de castanhas, coco e baunilha, feito à quatro mãos. A emburana tem sabor doce e xaroposo de baunilha, que casou bem com as notas redondas e cremosas do macassá. Sensacional!

Fizemos também a sempre favorita sopa de batatas com guasca, fresquinha, colhida lá mesmo. O Gui trouxe um panelão de creme de batata, apenas acrescentamos as ervas lavadas e cozinhamos brevemente. Se gostaram? Rasparam a panela! Virou um caldo cremoso de alcachofra PANC (a guasca tem sabor de alcachofra, dê uma olhada nos arquivos do blog sobre ela). Até a (Master)Chef Paola Carosella esteve na oficina e aprovou os preparados.

Teve ainda brownie de batata doce da horta, bolo cru de manga com coco, pão de queijo de batata doce, chá colorido de flores e outras delícias, porque com comida fica tudo melhor. Para ficar perfeito, só se for o som do Txai Brasil e os Agricultores Sonoros.

Fotos do Guilherme Bonducchi, da Mariana Marchesi e da Mei Ying.




As novas moradoras da Horta.

As crianças se divertiram em deixar a festa mais bonita!

Todos com a mão perfumada pelo delicioso Macassá



Nossa "Mesa PANC"


Nossa Mesa Panc com algumas das que encontramos
Teve até música ao vivo, da melhor qualidade!
Txai Brasil e os Agricultores Sonoros.
Tive que ser tiete e tirar uma foto com a doce Paola
(e sair com essa cara de sono) Aliás, ela me sugeriu uma
planta PANC para o blog. Falaremos dela em breve!



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Beldroega nos Jardins - Também se come. Portulaca umbraticola.


Falamos recentemente da Beldroega , e deixei pra falar mais pra frente de uma parente muito próxima, da espécie Portulaca umbratícola, também uma PANC, embora pouco conhecidaA planta é idêntica, mas as flores, ao contrário da beldroega tradicional, são vistosas, coloridas e enormes. Aliás, podem ser amarelas, brancas, rosadas, roxas ou lilases. A que eu tenho é branca, e como sua parente onze-horas, só abre a flor no meio da manhã.



Aliás, a onze-horas é muito parecida, porém diferente. A beldroega tem as folhas chatinhas e ovaladas, enquanto a onze-horas, que não se come, tem as folhas fininhas e compridas igual dedinhos. As duas são vendidas como onze-horas, mas você, caro leitor, vai saber olhar para a folha e dizer qual se come - a da folha redonda!

Onze-horas comestível, beldroega da flor grande.
Onze-horas não-comestível. Note a forma das folhas.

Os nutrientes são muito parecidos, com a diferença de que a onze-horas comestível tem flores bonitas que alimentam não só as pessoas, mas as abelhas e as borboletas. No jardim, toleram bastante sol, solos pobres e secos, deixando um tapete colorido pela manhã.

Folhas chatas e suculentas, flores grandes.

Espetei num canteiro na rua, e olha como cresceu!

Para fazer mudas, caso não encontre sementes, basta pegar alguns ramos e colocar na terra, que eles enraízam com facilidade. A propagação é fácil.

Na culinária, use as folhas frescas ou refogadas, da mesma maneira que faria com a Beldroega normal. As folhas são ácidas e crocantes e as pétalas podem entrar na composição de cores pra uma salada ou suco - mas na panela ficam escuras e murchas, não tente.

Ah, elas existem em outras cores. Também há variedades dobradas, de mais de uma cor. Veja que lindas:





GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Portulaca umbraticola. Herbácea suculenta, muito ramificada, sem pelos, com ramos prostados ou eretos, com altura de até 30cm. Folhas simples, arredondadas, formando rosetas na ponta dos ramos, por onde surgem as flores. Lamina foliar verde brilhante, grossa, de 0,5cm a 3cm de comprimento. Flores solitárias, de grande porte e cores diversas, formadas por 5 pétalas, e se abrem apenas pela manhã.

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Calçadas, solos recém carpinados, solos expostos, solos arenosos, locais ensolarados. Planta ornamental.

FORMA DE PREPARO
Crua ou cozida, em saldas, refogados, sopas e sucos. Pela manhã é mais ácida.

sábado, 18 de abril de 2015

PANC deliciosa: Monstera, Fruto da Costela-de-Adão


Pra mim, o nome científico diz tudo: Monstera deliciosa. Certamente o botânico que a batizou provou de suas frutas e se encantou. O sabor é um tutti-frutti tropical de sabores como atemoia, maracujá, abacaxi e muitos outros sabores, que só provando pra saber. O perfume dá pra sentir de longe, bem de longe. Deliciosa. Ela tem um nome bem popular: costela-de-adão, pela forma de costela das folhas.

Os frutos, ainda verdes, no Parque do Ibirapuera - SP
A descrição não parece real. Uma planta com folhas em forma de costela, que produz uma berry gigante e verde, que se auto-descasca, com sabor de tutti-frutti, que é venenosa quando verde mas maravilhosa quando madura, além de demorar um ano para amadurecer. Se eu te contar que ela existe, você acredita?

A fruta é verde e parece um espigão de milho gordo, sem-graça. Capaz de você já ter visto centenas delas pela cidade e não ter dado atenção. Essa fruta você não vai achar no mercado, porque é uma PANC de categoria - demora muito tempo pra amadurecer, é frágil e difícil de reconhecer - madura ou verde tem sempre a mesma cara. Fora isso, a costela-de-adão é uma planta venenosa, mas seus frutos são comestíveis, e acho que pouca gente sabe disso.

Ela se descasca sozinha, e a gente vai comendo.

A casca se retrai e vai se partindo em mosaicos.
O que está exposto está maduro e não pinica.

A casca se solta com facilidade.
Quando eu digo que demora para amadurecer, eu falo sério - demora mais de um ano no pé!

No sítio, temos uma costela-de-adão ao lado da casa, e algumas vezes por ano sentimos uma brisa com um forte aroma tropical - eu e minha mãe sempre saímos à caça de onde vem o cheiro, porque a monstera-deliciosa dá poucas vezes por ano e sempre que a encontramos, é um presente. 

Para saber se ela está madura, use o nariz: ela solta um perfume intenso de abacaxi-tutti-frutti. Assim que ela fica perfumada, a casca vai se soltando, expondo a polpa branca, suculenta, salpicada de pontos escuros. Sim, ela se auto-descasca, a casca se dobra para fora, e as pequenas pecinhas que formam o intrincado quebra-cabeça que protege a polpa começam a se soltar. Aí é colher a fruta e esperar que termine de amadurecer em casa, caso contrário, terá que disputá-la com formigas, besouros e vespas. Se cortada no começo da maturação, ela acaba de amadurecer fora do pé.

Cobra, Jacaré, Abacaxi ou Costela-de-Adão?
Mesmo madura, ela passa de verde escuro para verde-claro.
Para pessoas muito sensíveis, ela pode pinicar a boca, mas nada diferente da picância de um espinafre, por exemplo. Porém, só coma a parte em que a casca já está solta, caso contrário, você poderá passar mal! A fruta verde é venenosa igual taioba crua, devido a teores bem altos de oxalato de cálcio, que são destruídos conforme a fruta amadurece por enzimas específicas. Se ela ainda estiver verde, você vai sentir a língua e a garganta pinicarem numa dor intensa e latejante. Vá com calma e coma um pouco por dia - demora uns 4 dias para amadurecer completamente. Para saber se está verde, repare: a casca não se soltou ainda.

A costela-de-adão é uma planta famosa pela forma de suas folhas, recortadas e naturalmente furadas, que deixam qualquer ambiente com aquele aspecto de "tropical". Aliás, esse padrão das folhas é tão famoso que já existe até capinha para celular com ele. Imagine!

As folhas, furadas e recortadas, gigantes.
Para os adictos na fruta da costela-de-adão (monstera),
um souvenir.
O bom é que essa planta está pela cidade inteira, é só ficar de olho na fruta. Se quiser levar pra casa uma muda, basta pegar um pedaço do caule, tirar as folhas e espetar na terra. Ela gosta de subir em árvore, gosta de sombra e adora solos férteis e com boa umidade. Demora pra produzir, mas se você tiver espaço, vale a pena ter esse tesouro das frutas em casa.

Essa fruta é tão boa que não merece ser transformada em bolos, pudins. No máximo, um suco ou sorvete, para não mascarar seu sabor. Mas nada de adicionar outros ingredientes, ela é tão difícil de ser encontrada que merece ser saboreada pura. Aqui em casa, deixo num prato (isolado em cima da uma travessa com água, para afastar formigas) e protegido por um pano. Cada vez que passo na cozinha, pego um pedaço e degusto. Coisa fina, para saborear.




Se ainda estiver com medo de identificar, saiba que algumas plantas da mesma família também tem as frutas comestíveis, mas as folhas são possuem os tão tradicionais furinhos. O Philodendron bipinnatifidum tem as folhas sem furos e seu fruto é comestível, embora muito forte para pessoas sensíveis á sua pinicância. O sabor dele lembra mais banana, e eis seu nome mais comum - banana de macaco, imbé ou guaimbé.. Não fosse pela folhagem, os frutos são idênticos. Mas falarei dele em outra oportunidade, quando tiver os frutos em mãos.


Folhas da Banana-de-Macaco (Philodendron bopinattiphidum)

Fruto da banana de macaco, já descascada.
Essa pinica mais que a fruta da costela de adão.
Foto de Sidney Recco, retirada daqui.



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Rúcula selvagem. A mais gostosa.

Não sei se a história é verdadeira, porque me foi contada quase como história de família, que a avó contava. Sabe-se que os italianos são apaixonados por saladas, tendo inúmeras combinações de ingredientes. Pois bem, diz a lenda que existe uma erva em especial, chamada de rúcula, que os italianos adoram. Aliás, não é rúcula, é arugula, em italiano. Essa rúcula nada parece com nossa rúcula cultivada. Um conhecido, que morou perto de vinhedos italianos, disse que é uma das verduras favoritas do verão, porque nasce junto com os parreirais, em solo exposto, e ao invés de ser colhida, é comida. Sábios italianos! Suas flores, ao contrário da rúcula convencional, são amarelas, e as folhas são pequenas e serrilhadas.

A primeira vez que eu vi essa planta não foi no mercado, mas sim no logo de um restaurante, perto de onde eu trabalhei. Na época, o dinheiro era curto e eu não tive a chance de provar a comida de lá - o que eu gostava mesmo, era o logo. Quase copiei a ideia aqui pra Matos de Comer - minha intenção inicial eram essas folhas junto com a do dente-de-leão no logo. Busted! Mas que era a folha da rúcula selvagem, ah, era.



Aqui em São Paulo eu só a vi em um único lugar: na Hora da Horta, na Casa Verde. Foi uma alegria vê-la pela primeira vez nascendo assim, sozinha, em pleno verão paulistano. Aliás, estive com a Rita e eles estão fazendo um canteiro só para essa verdura, e logo terão para comercialização. Foi uma descoberta realmente interessante - todos que provaram ficaram apaixonados. Aliás, assim que pintar dessa rúcula lá na Hora da Horta pra vender, eu aviso vocês!

A rúcula selvagem, nascendo sozinha.


O sabor é diferente? É. É adocicado, picante e mais perfumado que a rúcula normal. Aliás, é uma PANC e se espalha sozinha, tolerando sol forte, solos pobres e até um tanto secos - condições dos vinhedos italianos na primavera. Na Hora da Horta, da Rita, elas estão aparecendo por toda parte, e conseguimos algumas sementes para fazer vasos e um canteiro só para ela. A produtividade é menor, porque as folhas são pequenas, mas ela cresce bem mais rápido, e de qualquer forma, é um produto diferenciado. Rica também em glucosinolatos e antioxidantes. Só não vamos chamar de rúcula gourmet, né?

No canteiro, já florida.

As flores, amarelinhas

As vagens, as quais ansiosos esperamos sementes.

Acima, mastruz brotando, abaixo,
a nossa rúcula selvagem.
Se um dia você encontrar por aí, fique de olho e salve sementes - são minúsculas, amarelas e redondas. É uma preciosidade. Espero que vocês tenham a chance de prová-la, um dia. Outra amiga, cuja irmã mora na Itália e vem visitá-la frequentemente, traz na mala um saquinho cheio dessa rúculas. Um mimo.

IDENTIFICAÇÃO:
Diplotaxis muralis. Rúcula selvagem, wild rocket. Herbácea anual de ciclo curto, ramificada, ereta, de até 50cm de altura. Folhas irregulares, inicialmente dispostas em forma de roseta, de 8-25cm de comprimento. Inflorescências em hastes compridas, múltiplas flores (racemo), amarelas, de quatro pétalas. Sabor forte e perfumado de rúcula.

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Meia sombra ou plenos sol, performa melhor em solos férteis e irrigados periodicamente.

CONSUMO
Crua, cozida, em patês, pizzas, saladas...

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