Língua de vaca: indicadora solos compactados e úmidos. Daninha? |
Bom, nomes não surgem do nada, é preciso que alguém os crie. Talvez o agricultor que não sabia que elas tinham utilidade, ou o paisagista obcecado com uma grama impecável as percebe esteticamente daninhas Afinal, daninhas para quem? Talvez pro grande dono de terras que trabalha pra agroindústria - e me recuso a chamá-lo de agricultor, porque ele não trabalha com a terra, ele a explora. E a natureza não gosta muito de ser explorada, já perceberam?
Primeiro, vamos às definições. Esse blog é chamado Matos de Comer não por acaso. Caso não tenha percebido, apesar de algumas frutas e receitas soltas por aqui, gostamos e falamos mesmo é sobre plantas ruderais, das quais muitas são plantas alimentícias não convencionais. Plantas ruderais, caso tenha esquecido, é um termo eu te ajudo a lembrar: o termo é sinônimo de ervas daninhas, mas sem esse juízo de valores em cima delas. Ruderal significa "planta que acompanha o homem". Ou seja, onde o homem vai e desmata, queima, corta, lá vem as plantas ruderais para ocupar o solo. As plantas espontâneas, que nascem sozinhas.
Daninha e com orgulho! |
Essas plantas tem a habilidade de deixar o ambiente sempre mais fértil, mais solto, mais úmido e mais rico em vida. Sempre. São aquelas que nascem onde nada mais nasce, e vão preparando terreno até que as plantas mais sensíveis possam nascer, seguidas de plantas maiores, até a reposição da vegetação. Dessa forma, dificilmente você verá as espécies ruderais, "daninhas", numa floresta com solo rico e fértil. Ali, elas não tem mais trabalho a fazer. Aliás, há sementes que ficam décadas no solo esperando o solo ficar compactado, seco, pobre ou raso para brotarem. É o plano de saúde do solo. A esse "plano de saúde" natural damos o nome de banco de sementes do solo. Se a terra fica doente, essas sementinhas entram em ação.
É só a terra ficar exposta que elas aparecem. |
E não, não estou inventando nada disso. Aliás, há muito de científico nisso, tanto que a grande Ana Primavesi já escreveu sobre isso, e é possível encontrar informações sobre isso até mesmo no site da Embrapa.
Aí está a mágica! Certas planta tem essa função na natureza, a de equilibrar, reestabelecer. Por exemplo, se o solo está muito compacto, a tendência é que nasçam plantas de raízes longas e profundas. Elas naturalmente descompactam o solo e o deixam fofinho e permitem a entrada de água. Inteligência da natureza? Isso acontece porque as plantas de raízes rasas e fracas não conseguem penetrar a terra, portanto, as com raízes profundas e fortes prosperam. Por exemplo, espécies não comestíveis como a vassourinha de botão e a guanxuma são terríveis de arrancar, porque a raiz vai fundo na terra. Quando a planta morre, essas raízes viram túneis onde a água e a fertilidade penetram. E a terra vai afofando, afofando.
Tomei a liberdade pegar o que já foi escrito sobre o tema e fazer uma tabelinha sobre as PANC e o como elas podem dar pistas sobre como está o solo da sua casa, praça, vaso ou quintal.
Se o solo, por sua vez, é rico em nitrogênio e pobre em outros nutriente, plantas que toleram esses altos teores crescem rapidamente. Isso explica, por exemplo, a presença de picão e guasca em locais que se joga água de reúso, beira de calçada e até perto de ralos - porque são ambientes ricos nesse nutriente, que será reciclado por essas plantas. Calçadas onde cachorro faz xixi, rico em nitrogênio, também são infestados por essas plantinhas.
A tiririca gosta de solos ácidos, adensados e compactos, e ela vai crescendo até que o solo fique mais solto e fofo. Depois que ele melhora, ela gradativamente vai sumindo, morrendo. Dificilmente você vê um solo de floresta rico em tiririca, porém, um canteiro sujeito a pisoteio estará cheio delas.
Ainda, um lindo campo de tagetes indica forte presença de nematóides, pequenos vermes do solo que danificam as raízes das outras plantas. A tagete é repelente dessas criaturas, e é a única que sobrevive num campo infestado. Com o passar do tempo, os nematóides são afastados pela tagete e outras espécies conseguem nascer na área.
Gui! Adorei o post e não consigo ver o vídeo agora, mas senti falta de uma explicação sobre o trevo. Ele é indicativo de quê?
ResponderExcluirBeijos!
Larica! O trevo ficou de fora da tabela, né? Indicativo de solos com umidade constante, pouca incidência de sol e fertilidade média. Isso para o trevo azedo, ou azedinha, da foto. Para o trevo-branco ou trevo vermelho, indicativo de solos pobres em nitrogênio!
ExcluirIa ser lindo se tivesse uma foto do lado dessas plantas pra gente poder identificar
ExcluirPoderia também indicar solo ácido ou com falta de cálcio.
ExcluirPoderia também indicar solo ácido ou com falta de cálcio.
ExcluirArtigo esclarecedor. Faço um único reparo ao redator, o comentário: Grande proprietário o qual trabalha para a agroindústria...Trata-se de um estereótipo, prá não dizer pre-conceito. Produtores pequenos também tratam mal o solo...Portanto, as generalizações são quase sempre injustas.No mais, parabéns pelo artigo!
Excluirsei que é pedir muito, mas teria como expandir esse artigo e dizer o que podemos fazer em cada condição, com uma coluna nova na tabela?
ResponderExcluirAmei o tratamento dado a Natureza nesta post. Como nós, aqui na cidade, estamos por fora deste assunto! Vou procurar fotos das plantas da tabela, pra conseguir identificá-las. Grata, um abraço.
ResponderExcluirÓtimo texto, parabéns
ResponderExcluirFiquei feliz em saber que as ervas ditas como daninhas são na verdade saudáveis para o ecossistema. A própria natureza se recupera. Então entendo que mesmo que o homem interfira na tentativa de agredir o planeta terrestre haverá sempre mecanismos naturais para a recuperação do ambiente? A Terra é auto sustentável?
ResponderExcluirA natureza é auto sustentável sim. No entanto, com a interferência negativa e constante do homem, aos poucos vai perdendo esta característica. Ecossistemas poluídos, demoram anos para recuperar-se. São muitos anos que a natureza leva para degradar materiais sintéticos, plásticos etc...Ou seja, ela tem a capacidade de degradar e recuperar as condições iniciais, mas não na idade cronológica do homem.
ExcluirFiquei feliz em saber que as ervas ditas como daninhas são na verdade saudáveis para o ecossistema. A própria natureza se recupera. Então entendo que mesmo que o homem interfira na tentativa de agredir o planeta terrestre haverá sempre mecanismos naturais para a recuperação do ambiente? A Terra é auto sustentável?
ResponderExcluirMuito legal gostei muito. Fiquei so com duvida em algumas siglas dos elementos Cu . Mn , Mo, , e de com agregá-los ao solo.
ResponderExcluirO ideal seria a consulta a um agrônomo para determinar as dosagens necessárias. Cu = cobre, Mn manganês e Mo = molibdênio. Abraços
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa iniciativa, mas na tabela deveria ser PLANTAS INDICADORAS, e não PANC (planta alimentícia não convencional), já que inclui tiririca, picão preto,etc...Imagina uma guanxuma refogada. Abraço.
ResponderExcluirOlá Luciano, todas as citadas são de uso alimentício. O picão e a guanxuma são usadas para chá, enquanto a tiririca tem batatas comestíveis. No caso, não está explicita a forma de consumo, mas são todas comestíveis.
Excluirabraços
Não sabia deste usos Guilherme. Perfeito então. Abraço.
ExcluirDas raízes da Tiririca podemos fazer um repelente para cochonilhas que atacam as orquídea, por exemplo
ExcluirAmei!!! gratidão eterna!
ResponderExcluirOi Guilherme tudo bom? Como você prepara o trevo? Valeu a dica do solo com eles. Aliás tudo aqui escrito. Adorei!!
ResponderExcluirEu consumo ele cru mesmo, mas dá para fazer geléia - mas daí vai precisar de uma boa quantidade deles! O bom é evitar suco com ele, especialmente em grandes quantidades. Abraços
ExcluirEu já havia lido o texto na sua página, gosto muito!
ResponderExcluirObrigado :)
Excluiroi Guilherme... muito legal... já tinha lido antes e fui reler, na tabela o picão é o branco, né?
ResponderExcluirSim, na tabela está errado, é a guasca ou picão branco :)
ExcluirGuilherme, este blog é especial pra mim, pois nunca vi dar tanto mato igual la em casa, é incrível. Pareci mágica. Uma semana tiro algumas e na outra parece que multiplicou. Tiro só algumas pois deixo as que acho "bonitinha". Mas fico triste com as tiriricas. Até vi um post falando que elas tem hormônios e são usadas como enraizador especialmente em algumas estaquias, como o pingo de ouro. Eu plantei placas de grama la em casa e agora não se vê mais grama, as tiriricas dominaram. De vez em quando tiro umas com a mão, mas quando tiro com a mão vem um porção de grama e terra junto e fica um buraco da onde ela foi retirada. "Sofrimento" viu. Já comprei remédio caro contra as tiriricas mas resolveu só por um mês. Já não sei mais o que fazer e as tiriricas não é algo que queria em casa. Se puder me dar uma luz eu agradeço imensamente. Abraços e parabéns pelo post e por estar nos ajudando.
ResponderExcluirQue maravilha de blog.Vou ficar acompanhando.Vida longa à Nossa generosa Mãe Terra com todos os seres viventes em harmonia.
ResponderExcluirDúvidas:e a babuja do mato, qual seu propósito na natureza?Quebra-pedra?Xanana?
ResponderExcluirBom dia Guilherme ranieri...gostei muito,eu gosto muito de comer trevo,berdoegua. O ecossistema ea mãe natureza agradece. Abraço forte gratidão
ResponderExcluirBom dia Guilherme ranieri...gostei muito,eu gosto muito de comer trevo,berdoegua. O ecossistema ea mãe natureza agradece. Abraço forte gratidão
ResponderExcluirmuito bom,gratidao poxa minha vo sempre pede para arranca-las,mesmo assim desde pequena adorava TODAS as plantas e toda a natureza entao nao seguia o conselho dela
ResponderExcluirestou lendo na virada
Oi Guilherme, muito legal o texto! É difícil ter essa percepção quando as rudeiras estão invadindo canteiros, mas é muito bom entender o que elas estão fazendo lá.
ResponderExcluirVocê pode compartilhar a bibliografia?