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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Como plantar e colher gergelim



Eu sei, o gergelim é uma planta super convencional. Mas você já viu um pé de gergelim? É lindo. E rústico. E produtivo. Então, plantemos gergelim!

O gergelim e o pão foram feitos para ficarem juntos. Estou na onda de fazer pão caseiro, porque é feito com poucos ingredientes, é mais saboroso e saudável que os pães comprados prontos, que além de serem cheios de conservantes, tem uma textura gelatinosa estranha - falo dos pães de forma de mercado, que são molengos demais. E o gergelim, tenho usado como incremento no meu pão integral, aproximadamente 10% do pão em sementes. Aquecido e triturado antes, mistura-se à massa e cria um sabor fantástico de assado, de torrado, que sinto falta nos pães brancos. Enfim, se estou usando tanto gergelim, porque não plantar outro tanto?  

Primeiro as flores

Depois os frutos
Para plantar, basta conseguir sementes de gergelim cru, com pele - é aquele mais branquinho. O gergelim preto deve servir, mas nunca plantei. A época de plantio é na primavera e verão, com a vantagem de ser uma cultura que não gosta de muita água, especialmente na época da colheita, ou os grãos podem mofar. Aqui em SP a umidade do ar está em torno de 50%, ou seja, bem seca, ideal para colher o gergelim.

É uma planta produtiva e útil. Uma semente me rendeu quatro colheres de sopa de sementes, ou seja, é um bom investimento. Não precisa de muito pra começar. Ela cresce rapidinho, aliás. As folhas, ásperas, podem ser usadas para deixar a pele macia, promovendo uma esfoliação suave. O gergelim também é aliado no controle de saúvas, porque as folhas, ricas em sesamina, ajudam a combater o fungo da qual as formigas se alimentam, enfraquecendo o formigueiro. Que tal plantar algumas linhas de gergelim no entorno da horta? Além do mais, é uma planta que dá lindas flores brancas ou rosadas, então fica como ornamental.

Para saber a época de colher, os frutos verdes começam a abrir, às vezes antes de secarem, então é preciso ficar atento. As folhas costumam secar na época da colheita, essa é a dica. Em geral, as plantas são desfolhadas, colhidas assim que começam a abrir, e deixadas secar de cabeça para baixo à pleno sol - as sementes simplesmente caem das vagens que se abrem. Crescem todas juntas, enfileiradas em quatro compartimentos dentro de cada vagem. Daí, é juntar, tirar alguma eventual impureza e guardar. Simples assim.

sementes saem desses compartimentos.

cinco pés e quase 100gr de sementes

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O maior feijão do mundo: feijão espada, feijão cavalo

O maior feijão do mundo
O maior feijão do mundo mesmo. Esse bate todos os recordes. A planta não é tão grande ou vigorosa quanto um feijão mangalô ou orelha de padre, mas atinge um bom tamanho, além de tem vagens de até 50 centímetros e feijões com até cinco gramas.

Não encontrei registro de quando o feijão-espada chegou ao Brasil mas consta que é cultivado no nordeste e sudeste como adubação verde, como ornamental e como curiosidade botânica. Seu nome científico é Canavalia gladiata, sendo gladius, do latim, espada, origem próxima de gladiador, "lutador de espada". A vagem, de fato, parece uma grande espada vegetal. Ele é originário da Ásia, mas já é cultivado em diversos países, embora seja um vegetal mais consumido por lá. 

A flor, e alguns meses depois, os frutos.

Feijões jovens já enormes.



A parte comestível são as sementes e as vagens, sempre tenros e verdolengos. Existem quatro estágio de colheita.

No primeiro, com as vagens planas, com aproximadamente 30 a 40 dias, sem que os feijões tenham sido formados completamente, são usadas como feijão de vagem ou feijão verde, fatiadas fininho e com sabor de vagem comum.

O segundo estágio, algumas semanas depois, quando amadurece um pouco mais, com os feijões na metade do tamanho, as vagens podem ser consumidas. Nesse caso, raspa-se o miolo esponjoso a parte verde e as sementes jovens são consumidas. 

No terceiro estágio, como o da primeira foto, tendo a vagem já espessa, gorda, com feijões grandes, porém imaturos, apenas os grãos são consumidos, porque a vagem fica fibrosa e dura como couro. Não recomenda-se o consumo do feijão seco cozido, o quarto estágio, e explico o porquê.

Assim como o feijão-de-porco, esse feijão inicia a produção de toxinas mais ou menos a partir do 30 dia a partir da floração, e os níveis de toxinas vão aumentando até o desenvolvimento do grão seco. Portanto, quanto mais jovem a vagem e o grão, mais fácil de preparar por ter menos compostos antinutricionais. Para vagens jovens e grãos "verdes", basta uma ou duas fervuras, descartar a água e consumir. 

Os compostos que são presentes no feijão seco, como a concavanina A, cavanina e canalina acumulam-se com o tempo no grão, demandando que sejam retiradas. Para tanto, caso pretenda utilizar o grão seco, primeiro é preciso deixá-lo imerso em água por algumas horas, para que inicie o processo de germinação. A água deve ser substituída a cada quatro horas. Depois que o grão hidratar, a pele deve ser removida e ele deve ser cozido até amolecer. Depois, os grãos ficam em molho em água, sendo essa água removida ao menos quatro vezes por dia por volta de três dias, quando o grão estará seguro para consumo. É o mesmo processo de produção do tremoço, um grão extremamente amargo e tóxico que após esse processo, é comestível e usado como petisco - aqui em São Paulo, assim como na Bolívia, em Portugal e na Itália são bem comuns. 

Para os grãos verdes, como os da foto, no terceiro estágio de maturação, ainda tenros e macios, o preparo é mais simples. Basta fazer um corte lateral nos feijões e cozinhar até a pele começar a soltar. Ela deve ser tirada, porque é borrachuda e grossa, chegando a parecer sintética de tão bonita e brilhante. Então, o feijão deve ser cozido em nova água até amaciar completamente, e a água, descartada. Sinceramente, eu gostaria de ter colhido as vagens um estágio de maturação antes, porque colhi velhas e não pude aproveitá-las, só o grão. Essa vagem tinha 420gr de peso com os grãos. Acredito que renderia uns 300gr de vagem se limpas e fatiadas. Então, como sugestão pra mim no futuro, colher as vagens tenras ao invés de privilegiar os grãos - rende mais.

Para plantar, basta enterrar o grão e esperar a magia acontecer. Como é uma planta robusta, não se dá bem em vasos e precisa de pleno sol, em locais com solo mais seco ou nunca encharcado, nada de beira de córregos e lagos. Por ser trepadeira, precisa de algo para se apoiar. A produção se dá entre 120 e 200 dias a partir do plantio, e dependendo do clima a planta comporta-se como bianual. 

Para abrir, passe uma faca na parte superior,
que a vagem abre sem resistência.

50gr de grãos em apenas 7 grãos.

Esse miolo macio deve ser retirado, caso vá consumir
a vagem verde.

Uma vagem rende um punhado cheio.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Variedades de Feijão Guandu

Vagens de guandu em época de colheita.


O tempo fica seco na estiagem, e é essa época que o guandu escolhe pra florir e produzir. Ao menos todos os de casa resolver florir abundantemente essa época. É uma boa estratégia, especialmente porque há poucas flores no inverno, então os polinizadores se concentram nas poucas que existem. Da flor até a vagem matura é um curto intervalo. Os grãos verdes são maravilhosos e podem ser consumidos como ervilhas. E o guandu segue forte e florido, apesar da seca. Para saber mais sobre ele, já falei aqui e aqui.

A variedade que plantei na última safra é o amarelão, que produz flores amarelas rajadas de vermelho, vagens de cinco a sete grãos, sementes grandes, amarelas, e com uma planta de até 4 metros de altura. Consegui sementes com um vizinho, e parece ser uma das poucas semeadas aqui na região.


Fui dar uma boa olhada nos que eu possuía aqui, e notei o quantas diferentes variações e variedades existem. Eu em pouco tempo consegui um bocado delas, e pretendo plantá-las agora na primavera. O sabor acredito que seja semelhante para todos. O curioso é que a única variedade que existe à venda em grande escala é a rajadinha. Qual mais você conhece?

Para plantar, é só jogar duas ou três sementes em uma cova, desbastar as mais fracas e aguardar, quem em alguns meses ele estará produzindo. Alguns artigos sugerem que as folhas são comestíveis, mas nunca tentei consumí-las de fato. A melhor época de plantio é a chuvosa.

Como dicas de colheita, a primeira é, separe as vagens secas manualmente e deixe-as ao sol, em um dia bem seco. Elas vão abrir e liberar as sementes. As que não as liberarem, basta colocar em uma bacia e amassar com as mãos e os pés descalços - aproveita e já faz uma passagem na sola dos pés. Para guardar, deixe-as secar dois ou três dias e armazene-as em frascos com cinzas ou calcáreo, de forma que seja um pó fino. Pressione para tirar todo ar, de forma que os insetos terão dificuldade em fazer uma infestação e morrerão sufocados na cinza. Se preferir, pode usar sílica pra areia de gato, daquelas bem finas (é caro, mas dá para reutilizar). Para separar o pó das sementes, passe num escorredor de macarrão, tire o excesso e enxague, estando perfeitamente saudáveis para uso posterior.

Abaixo, a minha pequena coleção de variedades de guandu, que logo vão para a terra. Todas trocadas e compartilhadas em feiras de troca de sementes. Meu xodó é a negra, que dizem ser de um pé bem baixinho.

Variedades. A minha é a amarela, de cima, as demais,
vão pra terra na primavera. Todas ganhas em feiras
de troca de sementes agroecológicas.

Ah, e sobre o rendimento, um único pé rendeu 400gr de sementes secas em uma única colheita. Já dá um almoço, heim?

domingo, 10 de julho de 2016

Brownie de ora-pro-nobis e abobrinha

Pareço legal, mas sou feito de abobrinha.
O título dá medo, né? Parece receita que não dá certo. Mas pelo contrário, é muito fácil e fica deliciosa. O sabor do chocolate e das castanhas aparece totalmente, e ninguém diria que esse bolo é feito de folhas e com legume. Nunquinha. E eu não faria esse brownie de novo porque é saudável, e sim, porque fica maravilhoso.

Notei o quanto somos programados para pensar sempre as mesmas coisas na cozinha: carne é prato principal, legume é acompanhamento, salada vem primeiro, doce sempre depois do salgado... E farinha, então sempre vamos direto na farinha de trigo, salvo algumas tapiocas e pães de queijo feitos com mandioca. Legumes na sobremesa? Nunca!

O início de tudo foi a dica da Nic, minha irmã, sobre um brownie feito de batata doce. Existem infinitas receitas, algumas bacanas, voltadas para o sabor, a doçura delicada e a textura da batata, outras com um viés fit que acho besta - receitas com whey, albumina, agave, goji... Acho triste quando nos alimentamos pensando unicamente na função nutricional, fibras, proteínas, índice glicêmico, esquecendo o valor intrínseco do ingrediente, todo seu contexto e sabor, reduzindo-o à termos técnicos. Passa a moda da maromba, o pessoal deixa de comer batata doce, porque não gostavam, apenas mas porque era fit. Credo. 

Na falta de papel manteiga usei alumínio mesmo,
e funcionou perfeitamente. Desculpem a foto feia.
(é feio mas é fit, hihihi)

Enfim. O brownie de batata doce fica bom mas fica meio pesadão, o meu ficou até meio pudim. Gostoso, mas eu queria algo mais leve. Me deparei com o brownie de abobrinha. Genial! A abobrinha é neutra, leve, com bem menos amido que a batata-doce e por ser rica em fibras, deixa o brownie molhadinho e brilhante. Na hora pensei, "se a abobrinha pode, a ora-pro-nobis também". E foi assim que eu misturei legumes e verduras com chocolate, castanhas e cacau, e o brownie ficou levinho, macio, saboroso e nutritivo. Mas, repito - faça porque é saboroso e maravilhoso, mas se estiver de dieta, quiser colocar mais legumes e fibras na mesa das crianças, reduzir o valor glicêmico do doce, essa receita também serve. E você vai amar.

Na receita original, que adaptei, era usado óleo de coco (veja as fotos do original, que lindas). Como eu ainda não ganhei na loteria para usar meia xícara de óleo de coco, vai de óleo de girassol mesmo. Nozes estão caríssimas, então recomendo fortemente o amendoim e o girassol, que são mais baratos, igualmente saborosos, nutritivos, e de quebra você paga em real, não em dólar (nozes e avelãs são importadas, amigx). :)

A receita eu fiz de noite, e as fotos ficaram horrendas, então vou poupar vocês desse desgosto - fiquem com as fotos do brownie que é melhor. As duas que deram pra salvar malemale coloquei aqui - pela manhã, quando ele seria fotografável, já tinha sido atacado pelos glutões aqui de casa. Para a ora-pro-nobis, se puder, use os brotos, que são menos verdes e não vão influenciar a cor do brownie. E prepare-se, porque fica delicioso. 

Receita de Brownie leve de abobrinha e ora-pro-nobis:

1 + 1/2 xic de abobrinha italiana ralada fino (com caldo)
1/2 xic de ora-pro-nobis picada (a baba que ela solta ajuda a deixar o bolo úmido)
1/2 xic de cacau em pó (sem açúcar, e recomendo o alcalino, para ficar mais avermelhado)
1/2 xic açúcar mascavo
1/2 xic açúcar branco
1/2 xic farinha integral
1 + 1/2 xic farinha branca
2 ovos (acredito que dê para substituir por ovo vegetal feito de linhaça)
1/2 xic óleo (usei girassol) 
1/2 barra de chocolate meio-amarga picada em pedaços grosseiros
1/2 xícara de castanhas picadas (usei girassol cru pelado)
Pitada sal
1 +1/2 colher chá bicarbonato peneirado
1 colher de extrato de baunilha (usei o que faço, caseiro)

Preparo

1 Coloque no liquidificador a ora-pro-nobis, o óleo e os ovos, e bata. 
2 Num recipiente, peneire a farinha, o cacau, o açúcar, o bicarbonato, o sal e misture bem. 
3 Acrescente o batido no liquidificador, as castanhas, a abobrinha, o chocolate, a baunilha e misture bem. Parece difícil, mas a massa ficará macia e brilhante. 
4 Coloque em uma forma de 20 x 25 forrada com papel manteiga (usei papel alumínio e não grudou). O brownie fica alto, se quiser um baixinho, use uma forma maior. 
5 Pré-aqueça o forno a 180º graus por 20 minutos. Coloque o brownie e deixe assar por volta de 35 a 40 minutos. Ele cresce um pouco, depois murcha. Forma casquinha, mas não fica tão seca como um brownie normal. Espere esfriar, corte e sirva. E ganha um prêmio quem sentir gosto de folha ou de legume nessa coisa maravilhosa.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Flor de Mel ou Álisso


A flor de mel (Lobularia maritima) me lembra muito minha infância, e acho que foi uma das primeiras coisas que plantei na vida depois do feijão-no-algodão. Eu comprava saquinhos de sementes pra brincar de plantar e acho que essa era uma das plantas que mais dava certo, porque é bem fácil de cuidar e de ciclo curto. 

Na oficina feita na FM/USP, canapé vivo de
ora-pro-nobis com compota de batata roxa, decorada
pela flor de mel.
Na horta chegamos a plantar há algum tempo um bocado dele, e as abelhas adoram - mas alguém arrancou, acho que achou bonito e quis levar para casa. Paciência. As flores são brancas, pequenas, e nascem em cachos pequenos, exalando um cheiro intenso de mel, o que dá origem ao seu nome. É uma flor comercialmente muito fácil de encontrar, para forração e jardins, embora eu acredite que possa estar cheia de veneno, porque plantas ornamentais levam quantidades imensas de agrotóxicos para chegarem bonitas. Aquelas rosas enormes, vistosas, de floricultura, quando morrem, eu não tenho nem coragem de colocar na composteira, jogo no lixo mesmo. Veneno puro. Portanto, cuidado, se for plantar flor-de-mel, faça por sementes, que são encontradas facilmente à venda.

É uma planta rasteira, de aproximadamente 20cm de altura, com floração vistosa, apesar de pequena e delicada. Em inglês, alyssum. As flores, com aroma de mel, são comestíveis, assim como as folhas, mais picantes e muito parecidas com o mastruço. Podem ser consumidas cruas, como condimento, tanto as folhas ou as flores. Depois de colhida ela murcha com facilidade, então pode ser armazenada em caixas plásticas forradas de papel úmido em geladeira, caso queira guardar ou comercializar. Para plantar, escolha solos férteis, bem drenados, à pleno sol ou sombra parcial, cultivada evitando os meses mais quentes de verão.

Eu só notei a semelhança da flor de mel com o mastruço quando descobri seu parentesco, e são, de fato, idênticas, inclusive no sabor. Então, não esqueça que, apesar de ser uma flor comestível, o sabor vai lembrar brócoli ou mostarda, picante, então pode arruinar um doce se for usada como decoração de sobremesas. Imagine morder um delicado macarron e sentir um sabor pungente de brócolis junto?

Flor do matruço, Lipidium virginicum. Bem parecido, não?

É uma planta tão fácil de cuidar que hoje a vi nascendo na calçada, auto-semeada, em um buraco cheio de lixo em volta. Literalmente, a flor no asfalto. Curiosamente, não estava pisoteada, talvez por ser bonita?




quinta-feira, 30 de junho de 2016

Matos que nascem no jardim

A maior dificuldade de quem quer aprender a identificar plantas é conseguir enxergá-las no contexto de um jardim ou mata, afinal, elas são muito diferentes das fotos. Muita gente acha essa missão impossível, mas aqui vou mostrar que na verdade, é muito simples. Dentro das plantas que nascem comumente nas grandes cidades, as possibilidades se reduzem muito - estou falando de no máximo 30 espécies, mais comuns, verdadeiros matos de comer. Em um quadrado de 50cm² eu encontrei muitas espécies - são as predominantes nesse tempo frio, no inverno. Nas outras épocas do ano, esse perfil muda um tanto.

Nas ultimas oficinas, várias pessoas comentaram que gostariam de desenvolver um olhar mais "botânico" sobre o jardim. Como os aplicativos de identificação pouco funcionam, o nosso olhar e treinamento ainda serão as melhores garantias para identificar os matos de comer. Vamos treinar?

(clique nas imagens para ampliar)


Vermelho (Amaranthus deflexus): Caruru;
Laranja (Commelina erecta, C. benghalensis): trapoeraba
Amarelo (Crepis japonica): crepe do japão
Roxo (Plantago australis): tansagem
Marrom (Oxalis latifolia): trevo
Rosa forte (Bidens pilosa): picão preto
Rosa claro (Parietaria debilis): erva-pepino

Detalhe da foto acima: note as folhas com as pontas em
forma de "vale". Identificação do caruru ou bredo.

Detalhe acima: note folhas serrilhasdas,
inflorescências sem pétalas e a formação das sementes.
Típico do picão.
Outra foto: quantas espécies há aqui?

Vermelho (Amaranthus deflexus) : caruru
Amarelo (Solanum americanum): maria-pretinha
Rosa (Commelina erecta): trapoeraba
E nessa?
 
Rosa (Hypochaeris radicata): radite
Vermelho (Crepis japonica): crepe do japão
Laranja 
(Commelina erecta): trapoeraba
Amarelo
 (Parietaria debilis): erva-pepino
 

Pink (Sonchus oleraceus): serralha
Roxo (Emilia fosbergii): falsa-serralhinha
Laranja (Commelina erecta): trapoeraba
Roxo (Plantago australis): tansagem
Azul (Cyclospermum leptophyllum): aipo-do-mato
Rosa
 (Bidens pilosa): picão preto
Rosa Claro 
(Parietaria debilis): erva-pepino
Gostou? Mande a sua foto que te ajudamos na identificação. Não esqueça de mandar sua cidade, se o local recebi irrigação, se recebe sol e por fim, se é em casa, rua, parque, calçada, estrada.... São informações importantes na identificação.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Oficina Intensiva PANC- 26/05 em São Paulo



Devido à grande demanda e repercussão da última oficina na AAO, faremos uma nova edição no final do mês, dia 25/06.

Será um intensivo de 5 horas para aprendermos mais sobre o incrível mundo das PANC, com parte teórica e prática, abordando desde fundamentos de botânica e agroecologia até seu uso na gastronomia, com dicas de identificação, cultivo, coleta, plantio e preparo. Vamos também trocar mudas, sementes e dicas, pra todo mundo sair de lá preparado para começar sua produção!

Será das 9h as 14h, do lado do Metro Barra Funda, no dia 09/04, um sábado.

Vagas limitadas. 

Programa: 

  • Noções de biodiversidade alimentar;
  • Evolução dos sistemas agrícolas e a revolução verde, porque comemos o que comemos?
  • Flora nativa, nós consumimos? 
  • Noções de botânica.
  • Benefícios ecológicos e cultivo orgânico e agroflorestal. 
  • Identificação prática de principais espécies para agricultura urbana. 
  • Como lidar com a poluição? 
  • Usos na cozinha - inativação de enzimas, remoção de venenos. 
  • Principais formas de consumo para cada espécie. 
  • Benefícios e diferenciais nutricionais. 
  • Como coletar, cultivar, como multiplicar e onde adquirir. 

Ao final, troca de sementes e mudas.

Inclusos: Apostila PANC- AAO com dicas de cultivo, noções de botânica e listas de PANC Urbanas de São Paulo + troca de sementes e mudas + degustação de guloseimas feitas com ingredientes não convencionais.

Valores: R$90,00 para associados AAO e R$110, para não-associados.

Duração: 5h

Incrições e mais informações: (11)3875-2625 ou cursos@aao.org.br

Docente: Guilherme Reis Ranieri, gestor ambiental, mestrando em ciência ambiental e pesquisador em agricultura urbana pelo GEAU-USP. Autor da página Matos de Comer - www.matosdecomer.com.br

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Milho Mote e um prato com aromas andinos

Milho mote à venda na feira Kantuta.
Estava na minha prateleira um saco enorme de milho branco gigante que comprei há tempos na feira Kantuta, aqui em São Paulo, e não tinha dado fim a eles. São milhos brancos, gigantes, do tamanho de uma unha de polegar, com os quais eu não saberia exatamente o que fazer. Tentei plantar, mas o pés tombam antes de frutificar - não são plantas adaptadas ao clima aqui de São Paulo. E o milho foi ficando na minha prateleira.

Milho "mote" versus milho amarelo comum.
Aproveitei que agora é época de sabores andinos, o camote, ou batata doce, a huacatay, ou menta-peruana, e a quirquiña, ou arnica do campo, e pensei em uma sopinha para esquentar a noite. E não é que ficou bom? De andino não tem nada além da inspiração no uso dos sabores e a técnica de cozimento do milho. De resto, invencionice minha - e preciso inventar mais vezes, heim?

Folhas de huacatay ou menta peruana
Folhas de huacatay ou menta peruana

Folhas de quirquinha ou arnica do mato.

Folhas de quirquinha ou arnica do mato.

O mote é um milho usado como acompanhamento em diversos países, algo como o nosso arroz, assim como é usado no preparo de tortillas, de tamales, de arepas e de outros pães e bolos amiláceos. O segredo, nesse caso, para melhorar a textura da massa e remover a pele do grão, é o processo de nixtamalização, onde o o grão fica de molho em uma solução alcalina, seja de cal virgem ou de cinzas, e depois é cozido nessa solução, ficando mais macio e principalmente, mais nutritivo, porque aumenta seu teor nutricional. Se quiser saber mais sobre nixtamalização, dê uma olhada aqui.

Pois bem, nixatamalização eu não fiz, porque queria os milhos para uma sopa apenas. Para cozinhá-lo, deixa-se de noite em água fria até hidratarem, depois cozinham na pressão no mesmo tempo do feijão, ou em três horas em panela aberta, até os grão ficarem "fofos" e explodirem. Mais sobre como cozinhá-los, dê uma olhada aqui. Assim que estavam cozidos, em outra panela refoguei alho pilado com cominho, acrescentei os milhos cozidos, batatas picadas, batata doce laranja e sal, e deixei até que cozinhassem. O cominho foi por intuição, na tentativa de reproduzir uma sopa de batata e milho que comi na feira tempos atrás. Ao fim, adicionei folhas de huacatay e de quirquiña e deixei ferver mais uns 10 minutos para pegar gosto. Servi com folhas de salsa picadinhas.

Batata doce, milho "Mote", batata normal e ervas.

O ensopadinho. Os milhos ficam gigantes, macios,
adocicados e maravilhosos.
Se ficou bom? Ficou delicioso, com sabores muitos diferentes do que estamos acostumados. E incrível como a sopa é nutritiva, porque acordei na manhã seguinte sem fome nem para o café. 

domingo, 5 de junho de 2016

O que é milho crioulo?

Milhos crioulos
Outono é a época da colheita do milho aqui no sudeste. E festa junina, época das delícias caipiras. Alguns milhos colhem-se no final do verão, outros no final do outono - isso depende de cada variedade e claro, de quando foram plantados. Há alguns costumes, por exemplo, de semeá-los no dia de reis para colher até a páscoa, ou de semeá-los no São José (19 de março) para colher no São João (24 de junho), o que dá exatamente três meses, o tempo do milho maturar mas ainda estar verde para pamonhas, curaus e bolos.

Uma coisa importante sobre o milho é que, em geral, ele gosta de dias longos e de muita água, ou seja, o verão. Se plantado depois de abril, muitas variedades encruam, bicham, padecem, ficam anãs e com os grãos xoxos. A EMBRAPA orienta que o plantio pode ser feito o ano todo, mas que nos meses mais frios o tempo de colheita demora mais. Eu pessoalmente nunca tive sucesso plantando milho fora de época, especialmente porque o milho precisa de muita água, e o inverno é muito seco na minha região.

Acho que já devo ter falado sobre milhos coloridos aqui, mas acho que é um bom momento para falar deles novamente. Dentro do universo dos milhos crioulos, afinal, o que é um milho colorido? Qual a diferença para o milho amarelo?

Milho crioulo negro, para pipoca

Milho crioulo, para comer verde ou fazer farinha.

A trajetória de um milho



Cada agricultor traz o seu, identificado



Milho crioulo no Encontro de Sementes Livres
Antes de responder essa pergunta, é preciso entender o que é o milho. Ele é uma planta criada pelo homem, mas com as tecnologias agrícolas dos nossos ancestrais, há muitos milênios, mais de 7.000 anos. Inicialmente, o milho era um capim ramificado, sem sabugo e com poucos grãos, e cada um deles coberto individualmente por palha, chamado teosinto. Era muito parecido com um ramo de trigo. Esse teosinto ou milho primitivo foi sendo plantado e selecionado para maiores grãos, plantas menos ramificadas e mais produtivas e até mesmo para espigas com palha - essas definitivamente surgiram pelas mãos do homem. O teosinto e o milho sofreram cruzamentos ao longo do tempo, e cada localidade desenvolveu seus tipos de milho - alguns com as espigas arredondadas, outro com as espigas compridas, grãos longos, achatados, arredondados.

Milho com cada grão envolto em palha:
provavelmente o milho já foi assim no passado.
Variedade "tunicata", sem grande utilidade comercial.
Encara descascar grão por grão?
Milho crioulo é todo o milho que não foi apropriado pela indústria, ou ainda, variedades tradicionais que passam de geração em geração pelas mãos dos agricultores. Ou seja, são adaptadas ao local de seu desenvolvimento, possuem muita história e claro, não tem custo nenhum para seu uso, deixando o agricultor totalmente autônomo. Muitos dizem que os milhos desenvolvidos pela indústria são mais produtivos, e isso é verdade. Mas para essa produção, precisam de um uso alto de fertilizantes, de muitos tipos de veneno e claro, degradam o solo, contaminam a água e deixam o agricultor doente - o que não falta são relatos de intoxicação por agrotóxicos. 

Há muitos estudos muito interessantes sobre o rendimento do milho crioulo em relação ao convencional, tendo praticamente a mesma performance nas condições de campo dos agricultores, sendo muitas vezes mais resistentes à pragas e não necessitando de veneno nem de fertilizantes. Ou seja, além de gratuito, sua produção não demanda compra de insumos, o que é perfeito para os agricultores que produzem de forma orgânica e agroecológica. Um trabalho que recomendo a leitura é esse aqui. De qualquer forma, o interessante é o produtor ter acesso a muitas variedades de milho, e ele mesmo escolher qual a melhor para o seu tipo de cultivo e para a sua finalidade. Os critérios podem ser a cor, o rendimento, o formato da espiga, a beleza, o tempo de cozimento, a qualidade da farinha, a altura da planta, a textura da palha, o tempo de produção, enfim, todas variáveis que ele não é capaz de escolher quando compra um grão comercial.

Sempre que você ler algo como "milho crioulo vermelho", saiba que essa informação está incompleta. Uma semente crioula tem história e ela deve ser passada para quem tem acesso à semente. Apenas a cor do milho não indica se é milho de pipoca ou de farinha, precoce ou longo, de sequeiro ou de baixada, por quem foi cultivado, onde foi cultivado. Fique atento, especialmente se conseguir sementes crioulas - descubra o máximo que puder sobre elas. Não deixe o conhecimento se perder!

Milhos para chicha, na feira boliviana Kantuta em SP.

Milho "mote" boliviano na feira Kantuta - SP

Milho azul para pipoca ou farinha na feira Kantuta - SP.

Milhos crioulos, ganhos e plantados.

Milhos crioulos em Belém, no Congresso de Agroecologia.

Milhos crioulos em Belém, no Congresso de Agroecologia.

Milhos crioulos em Belém, no Congresso de Agroecologia.
Podem ser de todas as cores, tipos, formas, tamanhos, usos. Mesmo um milho amarelo pode ser crioulo (vi gente achando que milho "colorido" é sinônimo de crioulo). O milho amarelo é o mais comercializado atualmente, especialmente as variedades híbridas e transgênicas. Para saber as diferenças, é simples. O milho transgênico é feito em laboratório, com a inserção de genes de outros seres, que nunca cruzariam com o milho naturalmente. Dessa forma, cria-se milhos resistentes para receber mais e mais banhos de veneno, que são tão tóxicos que os milhos normais não resistiriam. Afinal, quem quer comer tanto veneno assim? Eu que não! Outros tipos de milho recebem genes de bactérias e produzem toxinas que evitam que sejam comidos por insetos.

Outro problema causado pelo uso de transgênicos é o fato de que eles contaminam as plantações vizinhas com seus genes. Com o vento, seu pólen, carregando informações genéticas, é transmitido para outras plantações de milho não transgênico, invadindo os genes das próximas gerações e modificando o milho crioulo. Alguns estudos sugerem que a distância mínima de plantio em relação a outras culturas é de 400 metros,  mas há relatos indicando que mesmo assim ocorre contaminação. E nem sempre essa prática é seguida. Isso se reflete em perda de biodiversidade, que não pode ser estimada e pode ter sérios efeitos a curto, médio e longo prazo. Vale a pena correr esse risco?

Eu sou contra a transgenia a partir do momento em que o agricultor perde sua autonomia e depende unicamente do mercado, a partir do momento que se usa mais e mais veneno e ele destrói a natureza e a vida humana, a partir do fato de que o consumo de transgênicos não é comprovadamente seguro (se fosse, porque retiraram a informação de que é transgênico dos rótulos de alimentos? Se fosse algo bom esse fato seria divulgado, e não escondido, não?). 

O milho híbrido, por sua vez, não tem genes de outras espécies implantados, e é produzido através do cruzamento de duas linhagens puras, resultando em um milho de qualidade na primeira geração. Se o agricultor plantar novamente esse milho, nascerá pequeno, fraco e diferente do milho comprado, obrigando-o a comprar sementes novamente. Ou seja, a guarda das sementes passa do agricultor para a indústria, tornando-o dependente, escravo da compra dessas sementes. Ao contrário, as sementes crioulas possuem grande vigor genético e são propriedade do agricultor, mais adaptadas ao seu local de desenvolvimento e ainda por cima, ele não terá que gastar um centavo para ter seu plantio de milho. Semente crioula é autonomia!

Conforme a EMBRAPA: "Os híbridos só têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1), sendo necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a uma segunda geração (F2), haverá redução, dependendo do tipo do híbrido, de 15 a 40% na produtividade, perda de vigor e grande variação entre plantas." 

Eu cresci achando que os milhos eram amarelos, e que milhos crioulos só existiam fora do Brasil. Mas que engano! Primeiramente, milhos podem ser de todas as cores e usados para os mais diversos fins, de plantas de meio metro a plantas de quatro metros, de milhos para fazer pipoca até milhos que servem para fazer chá e suco. Se tiver curiosidade, vá em uma feira agroecológica de troca de sementes para descobrir quantas variedades os agricultores cultivam. Mesmo aqui em São Paulo, os grupo indígenas como os Tendondé Porã e os Krukutu possuem suas variedades de milho crioulas, seu patrimônio e tecnologia agrícola na forma de grão. Ou seja, mesmo na cidade de São Paulo há cultivo de milho crioulo. Nas feiras agroecológicas que tive a oportunidade de conhecer, troquei e recebi muitos tipos de milhos, como a ocorrida em Pardinho, ano passado, e relatei aqui.

Tudo isso pra contar que tempos atrás ganhei algumas sementes de milho negro para pipoca, plantei uma semente, ela deu origem a um pé de milho que deu uma espiga. De um grão para uma espiga, já dá pra ver que o milho é um bom investimento, não?

Milho negro de pipoca, no meu quintal.
Uma apostila incrível sobre cultivo e plantio de variedades crioulas, em linguagem acessível e lúdica, clicando aqui.

Para quem quiser comprar milhos crioulos, existem alguns há venda na internet - mas nunca dá para saber a procedência. Na dúvida, converse com agricultores de sua região. E fique de olho em anúncios do tipo "mercadolivre", muitos milhos vendidos lá são trazidos de fora do Brasil e não produzem aqui, especialmente variedades andinas, bolivianas e peruanas.

O México é o país com mais variedades de milhos no planeta, listando 64 raças das mais de 200 do mundo, e dentro de cada raça, uma infinidade de variedades. Essa página maravilhosa mostra cada uma dessas raças de milho, clicando na figura, na parte superior da página.

Por fim, divulgando, pra quem não gosta de comer veneno nem lixo produzido pela indústria, vale conferir os eventos promovidos na Festa Junina Livre de Transgênicos  pessoal do Slow Food.

Colaborou com esse texto: Glenn Makuta, biólogo, ativista e membro do Movimento Slow Food Brasil.